15 de nov. de 2018

O primeiro ninho vazio é o ventre?

Crianças paridas
Sinto em meu colo seu conforto
Em meu útero sinto suas faltas
Enluto suas saídas pro mundo
(apesar de ser tão lindo vê-los correr)

O primeiro ninho vazio é o ventre?

Será que foi tão intenso que bastou viver?

Tanta coisa aconteceu
Ainda sei escrever?

Por em palavras sentimentos?
Por nas palavras sentidos que até eu desconheço?

Ler-me anos atrás
é estranho

Houve um tempo que a escrita dava voz e me organizava
Hoje o contexto é outro
escrita só a acadêmica, poesia nem nas horas vagas

Triste perceber que alguma coisa tirou a poesia de mim
O que? Em qual momento deixei a poesia ir?

Nem rascunhos. É triste olhar pra trás e não ver meus pensamentos virarem poesia
É quase como não ter vivido.

Ao mesmo tempo tanta coisa boa aconteceu
Joaquim e Francisco Irineu

Será que foi tão intenso que bastou viver?

a potência dos seus nascimentos
a força das suas presenças
um abraço que acalenta
são meus filhos, aconchego infinito
aprendizado permanente

uma parceria de amor
cumplicidade, construção
tantos desafios encarados

Mas, do eu que escrevia para essa que eu nem sei se sabe ainda,
Como foi mesmo que eu cheguei aqui?

agora tento exercícios de olhar pra frente
mas como, se não sei nem dizer o que aconteceu?
sei que eu não sou tartaruga em cima de poste
cheguei aqui e batalhei...
mas em qual ponto do caminho eu perdi a poesia?

será que foi quando deixei de sonhar com amores de sonho pra viver um amor real?
Algum amor é real?

Não sei. Sei que se acende em mim a vontade de escrever.
Mesmo que ninguém leia. Mesmo que seja pro meu eu do futuro.