8 de jul. de 2007

"Prejuízos de uma 'second life'"

"... mas há uma ameaça incômoda no ar: a da pobreza emocional. As pessoas já não estão procurando os outros, estão desistindo de estabelecer conexões vitais. Desconfiadas de tudo e de todos, optam por um plano B: procuram-se a si mesmas. O que seria algo a se comemorar, fosse esse "procuro-me" um processo de autoconhecimento, e não um ato de desespero e farsa.
Procuro-me com um outro rosto, uma máscara sem rugas, sem vincos, sem história. Procuro-me em beijos sem gosto, em contatos sem envolvimento. Procuro-me porque perdi a memória: já não sei o que quero fazer (só faço o que me sugerem), já não sei fazer amizades (só pelo Orkut), já não sei a quem obedecer (recebo ordens o dia inteiro: compre, pague, use, teste, faça, seja). Procuro-me porque não me enquadro em nenhuma tribo, não pertenço a nada que seja coletivo, e isso me isola. Procuro-me porque as pessoas entram e saem da minha vida de forma tão rápida que nem consigo deixar nelas uma saudade, e quando ninguém sente falta da gente, é uma espécie de morte. Procuro-me porque não sou representado por ninguém na política, estou desaparecido para o governo, que cidadão sou eu? Procuro-me porque não encontro nada que seja verdadeiramente real com o que eu possa me identificar..."

Acreditem, isso é da Martha Medeiros na sua coluna n'O Globo de 1° de julho. Gostei muito desse trecho porque mostra alguém percebendo o mundo de ilusão maluco que a gente construiu. E que hoje, mesmo que não o tempo todo, eu consigo olhar de fora.